contos

How to disappear completely

14h30 em um escritório no centro de Brasília. A Voz na Minha Cabeça, que estranhamente soa como a Gillian Anderson, não para de resmungar.

Voz na Minha Cabeça: Mmmmm… Grmrmrm. Nhrrarrrrrrrghnnnnn…

– Afe. Tá, chega de brincadeira. Desembucha.

VnMC: Aquele lance da timidez.

– Ah, o velho problema. Você não é a única a sofrer disso, sabe?

VnMC: blahblahblah… Se começar com estatísticas eu caio no sono.

– Na verdade 70% da população mundial sofre de alg…

De repente eu caio no chão, para a perplexidade dos colegas de trabalho. Quinze minutos depois eu consigo acordar e voltar à mesa, após tranquilizar todos.

– Isso doeu.

VnMC: Doeu mesmo. Você tinha que me bater na mesa?

– MAS É VOCÊ QUE… Deixa, não vou entrar no mérito da questão… Onde estávamos, afinal?

VnMC: Aquele problema.

– Ah, sim. Não é nada de extraordinário, como eu tentava dizer. Todos temos isso em algum momento, por medo do que pode acontecer – ou do que pode não acontecer. Medo do desconhecido, talvez, mas algum medo.

VnMC: Que timidez é medo eu sei, cáspite. Agora como resolver isso é que são elas.

– Fecha os olhos e pula. Deixa pra pensar no que aconteceu depois.

VnMC: Hummmm…

– …o quê?

VnMC: Fechar os olhos e pular, é?

– Não, peraí sua louca!

Corta para fora do prédio, no pátio. Um homem cruza a esplanada correndo e gritando “Queeeee saaaaaacooooo!”, para pular a toda velocidade no espelho d´água. Após vários chutes e socos no ar, e um banho na cara, eu recobro os sentidos para notar a dezena de curiosos que me observa.

VnMC: Opa.

Pessoa 1: Deve ser uma performance, veja a máscara dele!

Sim, máscara. Rosto pintado de branco e preto, sei lá como.

Pessoa 2: Nossa, que legal!

Pessoa 3 metida a intelectual: É de uma expressividade interessante, reflete bem a angústia que passamos por esse momento.

VnMC: Ih, caramba. E agora?

– Er…

VnMC: Vai, fala alguma coisa!

– É a angústia! A raiva! A incerteza de não vermos o futuro! E a vontade de esfriar a cabeça em um simples espelho d´água! Solto meu grito hoje, não em um teatro, mas na frente de vocês, para lembrá-los: somos todos humanos!

Uma explosão de palmas e assovios ecoa no ar. Pessoas gritam elogios, mulheres desmaiam emocionadas e outras jogam rosas, tiradas sabe Deus de onde, enquanto eu faço uma reverência e saio correndo pro carro.

Pessoa 4Adorable!

Pessoa 5Fantastique!

Pessoas: Mais um! Mais um!

VnMC: É, parece que tudo que disse fez algum sentido. Boa saída, garoto!

– Você me paga.