A playlist aleatória tocando enquanto você arruma a casa, e de repente vem o início de uma batida familiar. Daqui a pouco você está de pé no sofá, vassoura como microfone, gritando:
– IRORARÔ! IRAROBABOP! BIBABÔ! PERA! PEOPLE ON STREETS! IRARIRARÊ! PEOPLE ON STREETS! IRARIRARIRARIRA!
“The thing I hate the most about advertising is that it attracts all the bright, creative and ambitious young people, leaving us mainly with the slow and self-obsessed to become our artists. Modern art is a disaster area. Never in the field of human history has so much been used by so many to say so little.”
As capas dos álbuns do Pink Floyd são inacreditáveis, e não falo só das icônicas Dark Side of the Moon, The Wall e Atom Heart Mother. Essa última, aliás, você pode até não reconhecer pelo nome mas com certeza viu por aí:
O site Dig! fez uma lista das 20 melhores capas da banda. Acho meio caído rankear as capas porque acaba sendo mais uma lista da notoriedade delas (adivinha qual é a número 1?) do que qualquer outra coisa, mas vale ler pelos comentários de cada álbum que acompanham as imagens.
Quer saber? Nem tenta. Acabei de passar por uma sessão de seis álbuns da banda e estou prestes a transcender a um novo plano de compreensão musical. O último que ouvi foi o Pulse:
Dois discos, 24 músicas, e uma inveja enorme de quem pôde ver esse show ao vivo. Mas de repente foi melhor assim, a passagem de Brain Damage para Eclipse ia me fazer entrar em combustão espontânea.
Esse filme ganhou um hype por conta de seus produtores que disseram ser um filme “cientificamente correto”, e que para isso contou com a ajuda do youtuber Scott Manley, que honestamente é um ótimo canal para tudo sobre espaço.
Só que aí você assiste o filme e fica se perguntando, onde raios os produtores enfiaram as recomendações do cara? A ideia tinha tudo para ser legal, com uma sequência de decolagem até bem feita, mas a história morre logo em seguida num mar de bizarrices. E olha que eu tentei desligar o cérebro, mas os erros são grotescos demais para ignorar. Como:
O tal do passageiro que foi a tiracolo estava preso atrás de um painel que foi aparafusado por fora. E peraí, esse painel não estava na nave que subiu, estava na estação que já estava em trânsito! O cara se perdeu tanto que acabou teletransportado para dentro de uma nave no espaço?! Só consigo lembrar disso aqui:
O cara é engenheiro, e tratado como um retardado funcional pelo resto do filme.
O cara tem uma tese de mestrado sobre a nave onde ele está! Espere isso ser citado e completamente ignorado pelo resto do filme.
O cara não lembrou de como caiu ali, a médica fala tudo bem, você está assustado, espera acalmar e depois conta pra gente. Ele acalma, vai jantar com a galera e fica por isso mesmo.
Precisamos de oxigênio para dois anos, com um passageiro extra não dá! A solução? Atravessar o espaço até o foguete no lado oposto da estação e encher dois cilindros – DOIS CILINDROS, DO TAMANHO DAQUELES DE MERGULHADOR – para salvar a vida de todos.
Todo filme precisa de um momento de tensão, então bora botar uma tempestade solar bem na hora que os astronautas saírem para buscar os cilindros, com direito a alarme e tudo.
E no fim, espere sofrer por tudo isso e não ter explicação NENHUMA de como cargas d’água o diabo do engenheiro foi parar dentro da nave, nem resolução nenhuma da tal viagem de dois anos.
Parece que os escritores jogaram as ideias, tentaram costurar um roteiro e ficaram sem tempo de terminar a história, e no desespero fizeram o que fizeram. O engenheiro que subiu é um peso morto: você não sabe a motivação, não sabe como ele foi parar ali, não sabe das capacidades dele, não sabe o que ele estudou. E o pior, o cara tinha tudo para ser o pivot da história. Afinal ele está no título do filme, caramba.
Parando para pegar o engenheiro como ponto chave (que no final das contas é o motivo dessa zorra toda ter acontecido) dá pra arrumar 90% do filme com um ajuste simples. Senta aí que o tio Romeo vai contar pra você:
O engenheiro tem uma tese de mestrado. Faz a tese dele ser uma forma de usar o oxigênio que sobrou do foguete como um suplemento do suporte de vida. Aí ele tava trabalhando na nave, avisou para todos os colegas que já estava de saída e ia entrar de férias, e deu um jeito de entrar escondido depois do expediente para ver como funciona algum mecanismo da cápsula para colocar na tese. Aí ele tropeça e cai entre nos suprimentos, é empacotado e vai como carga.
Ok? Ok. Mas isso você não sabe, o cara aparece e fica o mistério. Mil e uma confusões acontecem, deu pau no sistema de oxigênio, ah meu deus a gente vai morrer não tem ar pra todomundocomofazagora?!
O engenheiro preocupado aperta o pendrive que ele carrega pendurado no pescoço, fica com a impressão de que é importante, e pede para ver o que tem nele. Tá lá a tese, a memória volta, ele explica tudo. Massa, temos a salvação. A partir daí é Apollo 13, dar um jeito de fazer a tese do cara virar realidade.
Mas nope, botaram a Anna Kendrick para andar no meio de uma tempestade solar carregando um cilindro de mergulhador. Nota? De zero a dez, merece um Mama mia, che cazzo di film.