Esse filme ganhou um hype por conta de seus produtores que disseram ser um filme “cientificamente correto”, e que para isso contou com a ajuda do youtuber Scott Manley, que honestamente é um ótimo canal para tudo sobre espaço.
Só que aí você assiste o filme e fica se perguntando, onde raios os produtores enfiaram as recomendações do cara? A ideia tinha tudo para ser legal, com uma sequência de decolagem até bem feita, mas a história morre logo em seguida num mar de bizarrices. E olha que eu tentei desligar o cérebro, mas os erros são grotescos demais para ignorar. Como:
O tal do passageiro que foi a tiracolo estava preso atrás de um painel que foi aparafusado por fora. E peraí, esse painel não estava na nave que subiu, estava na estação que já estava em trânsito! O cara se perdeu tanto que acabou teletransportado para dentro de uma nave no espaço?! Só consigo lembrar disso aqui:
O cara é engenheiro, e tratado como um retardado funcional pelo resto do filme.
O cara tem uma tese de mestrado sobre a nave onde ele está! Espere isso ser citado e completamente ignorado pelo resto do filme.
O cara não lembrou de como caiu ali, a médica fala tudo bem, você está assustado, espera acalmar e depois conta pra gente. Ele acalma, vai jantar com a galera e fica por isso mesmo.
Precisamos de oxigênio para dois anos, com um passageiro extra não dá! A solução? Atravessar o espaço até o foguete no lado oposto da estação e encher dois cilindros – DOIS CILINDROS, DO TAMANHO DAQUELES DE MERGULHADOR – para salvar a vida de todos.
Todo filme precisa de um momento de tensão, então bora botar uma tempestade solar bem na hora que os astronautas saírem para buscar os cilindros, com direito a alarme e tudo.
E no fim, espere sofrer por tudo isso e não ter explicação NENHUMA de como cargas d’água o diabo do engenheiro foi parar dentro da nave, nem resolução nenhuma da tal viagem de dois anos.
Parece que os escritores jogaram as ideias, tentaram costurar um roteiro e ficaram sem tempo de terminar a história, e no desespero fizeram o que fizeram. O engenheiro que subiu é um peso morto: você não sabe a motivação, não sabe como ele foi parar ali, não sabe das capacidades dele, não sabe o que ele estudou. E o pior, o cara tinha tudo para ser o pivot da história. Afinal ele está no título do filme, caramba.
Parando para pegar o engenheiro como ponto chave (que no final das contas é o motivo dessa zorra toda ter acontecido) dá pra arrumar 90% do filme com um ajuste simples. Senta aí que o tio Romeo vai contar pra você:
O engenheiro tem uma tese de mestrado. Faz a tese dele ser uma forma de usar o oxigênio que sobrou do foguete como um suplemento do suporte de vida. Aí ele tava trabalhando na nave, avisou para todos os colegas que já estava de saída e ia entrar de férias, e deu um jeito de entrar escondido depois do expediente para ver como funciona algum mecanismo da cápsula para colocar na tese. Aí ele tropeça e cai entre nos suprimentos, é empacotado e vai como carga.
Ok? Ok. Mas isso você não sabe, o cara aparece e fica o mistério. Mil e uma confusões acontecem, deu pau no sistema de oxigênio, ah meu deus a gente vai morrer não tem ar pra todomundocomofazagora?!
O engenheiro preocupado aperta o pendrive que ele carrega pendurado no pescoço, fica com a impressão de que é importante, e pede para ver o que tem nele. Tá lá a tese, a memória volta, ele explica tudo. Massa, temos a salvação. A partir daí é Apollo 13, dar um jeito de fazer a tese do cara virar realidade.
Mas nope, botaram a Anna Kendrick para andar no meio de uma tempestade solar carregando um cilindro de mergulhador. Nota? De zero a dez, merece um Mama mia, che cazzo di film.
Hã? Quer mais detalhes? Tá, tudo bem. Olha, eu sou um fã do Linux e passei meses vivendo exclusivamente no Ubuntu Budgie. Gostei tanto dele que, apesar de ter voltado ao Windows 10, ainda mantenho uma máquina virtual só com o sistema para brincar de vez em quando. Essa versão me permitia ter uma interface mais próxima ao macOS (que merece um post por si só) além das várias ferramentas legais do terminal, e se você é um usuário comum pode acreditar que o Linux vai trazer uma experiência com a menor fricção possível – e sem as atualizações inconvenientes e fora de hora do Windows.
Só que tem uma coisa, designers e artistas visuais não são usuários normais: passamos o tempo todo preocupados com visuais e usando equipamentos e softwares especializados para fazer nossas tarefas. E fazer o que fazemos no Linux exige não apenas paciência, mas um redesenho completo do modo de trabalhar, além de ter que aceitar inúmeras inconveniências do sistema operacional que simplesmente não podem ser resolvidas sem um conhecimento profundo de programação, scripts e/ou uso do terminal. Digo isso por experiência própria.
Resolvi então listar três perguntas para você refletir se vale a pena ou não migrar, e dar uma base melhor do que é viver no Linux sendo artista gráfico.
Você depende de softwares que só existem no Windows?
Você compartilha seus arquivos gráficos?
Você depende de um tablet Wacom Pro?
Responder “sim” a qualquer uma delas significa pular fora do barco e continuar a viver feliz no mundo Windows/macOS, a menos que você tenha disposição a lidar com vários entraves e dores de cabeça só para dizer que usa um OS open source.
Abra um espaço na agenda e pegue um café, porque logo abaixo explico um pouco mais cada ponto e o texto ficou longo. Vai lá, eu espero.
Você depende de softwares que só existem no Windows/macOS
Você sabe quais são: Microsoft Office, Adobe Creative Cloud, Sketch, Affinity Designer. Eles são o que há de melhor na indústria, e vivem nos confins dos sistemas da Microsoft e da Apple. E é aqui que os apologistas vêm com meias verdades ou mentiras descaradas para tentar angariar usuários.
A mentira descarada: os softwares livres são tão bons ou melhores que as soluções comerciais. Pode espernear o quanto quiser, mas dizer que o GIMP é como o Photoshop, ou que o Inkscape substitui um Affinity Designer é ridículo. O GIMP mereceria um texto à parte – esse demônio já fechou na minha cara do nada, várias vezes, só porque eu tentei complexa tarefa de mudar a fonte no design que eu trabalhava. De todos os programas gráficos gratuitos que testei, dou crédito apenas ao Krita, porque as ferramentas são realmente poderosas, mas a interface confusa e nada customizável me fez desistir dele. Somos profissionais visuais, lembra?
Além disso, por mais legal que seja o LibreOffice, ele não é um Word nem roda minhas macros para geração de cobranças, sem falar nas várias planilhas de Excel com scripts para gerar relatórios que recebia dos clientes, e que ficavam totalmente desconfiguradas. “Ah, é só não usar Office”. Ã-hã. Vai dizer isso pro cliente cheio de prazos vencendo que precisa do material pra ontem. Tenho certeza que ele vai adorar ouvir seu discurso pró software gratuito, e como ele deveria mudar todo o parque de software dele para acomodar a sua necessidade de ter LibreOffice.
Já as meias verdades vêm dos discursos sobre o Wine e máquinas virtuais. O Wine, a grosso modo, seria uma camada de compatibilidade que permite rodar aplicativos Windows direto no Linux, sem emulação. Essa parte é verdade. O problema é que você não consegue rodar as atualizações mais recentes direito, apenas as versões antigas. Espero que você goste do Office 2007 e do Photoshop CS6, ou tenha paciência para testar e editar arquivos de configuração do Wine, além de lidar com bugs inexplicáveis que não existem rodando nativamente, como o Photoshop dar pau quando você tenta usar o Content Awareness Fill.
Certo, vou apelar para a máquina virtual então! Perfeitamente, você pode instalar o Windows e ter todos seus softwares instalados ali. Olha que maravilha. Mas se você precisa rodar o Windows de qualquer modo, pra quê se dar ao trabalho de jogar o sistema numa máquina virtual e sofrer com a perda de desempenho se você pode ter tudo rodando direto na máquina? Posso dizer que editar um arquivo de 2Gb no Photoshop em uma máquina virtual dá vontade de jogar a máquina real pela janela.
Não tem jeito, o desempenho é inferior. E eu sei que existe o tal do passthrough, aquele lance de deixar a máquina virtual se apropriar dos componentes do computador para agir como se fosse nativo, mas aí voltamos ao problema de ter que editar configurações complexas, perder tempo com inúmeros testes, e ter que lidar com o fato de que você vai rodar uma versão completa do Windows de qualquer jeito. Se é assim, prefiro ficar com o original sem dor de cabeça.
Você compartilha seus arquivos
Isso é o melhor exemplo duma “morte por centenas de cortes de papel”. Existem padrões mais genéricos como PDF, SVG e EPS que podem ser gerados e encaminhados para impressão sem grandes problemas. O enrosco começa quando você passa a receber arquivos PSDs e AI do cliente que só quer ajustar um leiaute ou usar como base para a criação, e nem sempre esses arquivos são importados direito, ou as fontes são convertidas em curvas na importação e você precisa digitar tudo de novo, e assim se vai mais tempo corrigindo e ajustando do que efetivamente editando.
O mesmo vale para documentos Office, nem sempre eles abrem sem problema. Já recebi arquivos com tabelas completamente zoadas, cores alteradas ou mesmo comentários cortados, e acaba-se perdendo tempo consertando o estrago.
Claro, a solução poderia ser uma máquina virtual apenas para lidar com importações e exportações, mas voltamos aos problemas que listei no ponto anterior.
Você usa uma mesa digitalizadora Wacom profissional
Esse ponto junta a injúria com a agressão, e foi a gota d’água que me fez abandonar o Ubuntu Budgie e voltar para o Windows. Ter uma mesa Intuos Pro e não poder usá-la direito não faz o menor sentido.
“Ah, mas o Linux tem suporte aos tablets da Wacom implementado no kernel”. Sim, tem, e os tablets da Wacom funcionam. Existe até um projeto open source dedicado a criar e manter drivers para essas mesas, e ele roda de maneira quase transparente: você pluga sua mesa e BAM, começa a usar a caneta – inclusive com a sensibilidade de pressão e inclinação funcionando.
O problema não é esse, e sim a completa ausência disso aqui:
Esse painel é coisa linda de deus, e serve para a maior e mais útil funcionalidade de uma mesa profissional, a criação de perfis específicos para cada aplicativo. Eu posso com isso ter uma combinação de botões e sensibilidade da caneta para o Affinity Designer que me permite fazer 90% das atividades sem tocar no teclado, e automagicamente ter uma nova combinação de botões e sensibilidade apenas por clicar numa janela diferente.
No Linux? Boa sorte. Você tem um conjunto de configurações e olhe lá. Eu até comecei a me aventurar em uma forma de automatizar as alterações mas desisti. Era meio que reinventar a roda, e sem garantia de sucesso satisfatório (sem falar na reca de pessoas que poderia ver o painel e começar a me cobrar melhorias. Sem tempo, irmão).
Resumindo
No fim das contas, não vejo qualquer vantagem em usar Linux. É muita dor de cabeça, falta de recursos e perda de tempo para conseguir o que se consegue com muito menos esforço no Windows. Mais, há muito tempo o sistema da Microsoft não é mais aquele sistema instável e bugado.
Agora, se você não concorda com nada do que escrevi aqui, vai lá. Pega uma distro, instala e boa sorte. Espero que sua experiência seja mais agradável que a minha.
Há dois meses resolvi cancelar minha conta da Adobe para viver apenas com os softwares da Affinity, e quer saber? Devia ter feito isso há muito tempo. Pagar um pacote inteiro para ter um editor raster e um vetor em vez de ter apenas os dois softwares em separado é uma coisa que sempre me incomodou.
Mas o problema não é só esse. Reclamei que coisas como o Acrobat ocupam um espaço irracional para visualizar e editar PDFs, sendo maior que o Photoshop e o Illustrator. Afinal, se espaço é barato hoje em dia para quê otimizar, não é mesmo? Vamos usar o que dá. Esse comportamento folgado também serviu de motivação para cancelar a assinatura, afinal tenho coisas muito mais importantes para instalar no meu parco SSD do que um leitor de PDF.
Assim, desinstalei tudo e baixei o software de limpeza da própria Adobe, achando que isso limparia minha máquina de qualquer resquício da Creative Cloud. Reiniciei, apaguei as pastas de sobraram dentro do Arquivos de Programas, e tudo certo! Nope.
Dois meses depois resolvi testar o TreeSize Free para ver as pastas que mais ocupavam espaço no disco. Eis que eu vejo isso:
Seis gigas de Adobe? Não, seis gigas de cache para programas da Adobe. Você está de brincadeira com a minha cara. Apertei Delete e fui revirar o HD por mais lixo perdido por aí. Encontrei mais duas pastas, uma oculta na raiz e outra dentro de Arquivos de Programas > Commom Files, e ainda achei mais 2 Gigas de arquivos de instalação de drivers da NVidia.
E não só isso, uma das pastas da Adobe se recusava a ser apagada. Abri o gerenciador de tarefas e o que eu encontro? Dois serviços da Adobe instalados:
Quer dizer que dois meses depois de ter cancelado minha assinatura e apagado os programas eu ainda tinha um assistente de verificação de licença instalado e rodando na cara dura? Mesmo depois de ter rodado a ferramenta de “limpeza” deles?
Fica assim a lição Toon de hoje: 10Gb recuperados, antes tomados por arquivos completamente inúteis, e a certeza de nunca confiar nessas ferramentas de limpeza e desinstalação.
Um belo dia você acorda e pensa: quero manter minhas coisas por aí mais não, vou juntar tudo no meu site. E começa pelo blog. Aí você abre o site do WordPress, cata os arquivos, prepara toda a configuração do seu servidor, edita o .htacess porque esqueceu de colocar os arquivos na pasta certa, apaga tudo, reinstala, estuda a API e finalmente acerta o wp-config.php, põe o site de pé, apanha para entender por que os redirecionamentos estão quebrados, e vai mexendo e cutucando até que um dia, tudo funciona.
Feliz, você faz a dancinha da vitória e comemora abrindo o painel de controle do seu domínio para criar um endereço novo, e descobre um link do Softaculous que instala o que quiser, WordPress inclusive, automaticamente e quase sem configuração, em dois minutos.
Pintado por Piero della Francesca, o afresco registra o momento onde um anjo e uma mulher equilibrando um prato na cabeça olham para um pilar pouco antes de o empurrarem e saírem correndo, deixando para trás os destroços da construção. Seu João, no alto, tenta diplomaticamente demover os dois da idéia dizendo “Eieiei mexe aí não, ô!”, em uma vã tentativa de salvar seu trabalho de alvenaria.
Intitulada “Agora a casa cai”, a obra tem 3,29 por 1,93 metros e encontra-se na cidade de Arezzo, Itália.