Tudo bem que faço piada de Mondrian e Duchamp e chamo os dois de tontos. É divertido distribuir bordoadas por aí, mas não há como negar que o que eles fizeram é, sim, arte, e que tiveram uma importância inominável para essa história. Mas aparece de vez em quando aquela famigerada pergunta que todos os interessados no assunto se fazem de vez em quando: o que é arte?
E eu sei lá. Só sei o que é. Francis Bacon é arte, os desenhos de Ralph Steadman são arte, a narrativa tresloucada de Tank Girl e Transmetropolitan – dois quadrinhos que merecem cada um um post em separado – são arte. Os clips do Radiohead e do TV on the Radio são arte. Mas não sei porque são. Você também vive isso ao bater os olhos em algo que lhe impacta visual ou sonora ou olfativamente, e não é necessariamente sua vizinha. Sabe que é arte, mas sabe que não é só porque o cara usou um lápis em um papel.
Comecei a me perguntar, porque definir isso é tão importante? Não vejo pessoas se matando para definir biologia, por exemplo. Não é algo tão claro assim: você estuda plantas e animais e seres humanos. E metabolismos. Sendo que essa palavra é um nome específico para certas reações químicas. Que podem ser estudadas por químicos. Que dependem de cálculos realizados por equações complexas que vêm da matemática – usada também por físicos. E por biólogos, em cálculos populacionais. E por bioquímicos também. No final a única coisa que você sabe é que biologia mexe com plantas e animais e deixa isso mesmo, pedindo para ser deixado em paz para continuar a estudar tranquilo sua mitocôndria.
– Mas peraí! Você ficou meses reclamando que qualquer coisa pode ser arte e agora vem com esse papo? Qualé?
Qualé? Peraí meu filho, senta aqui. Tem uma diferença entre arte e “arte”. Assim como existe uma diferença entre um médico e um picareta. O primeiro passou anos estudando, o segundo alugou uma sala e passou a receitar remédios porque leu um livro sobre doenças e acha que é a mesma coisa.
E assim como existe picaretas na medicina e engenharia, há também na arte. Só que se leva um bom tempo estudando e visitando exposições para perceber isso*, e depois de anos de museus e galerias e catálogos e sites você começa a olhar para algumas obras e perceber que o safado que se diz artista é na verdade um picareta que nunca leu nada sobre as referências que copiou descaradamente. Como disse, a culpa não é de Duchamp, é do camarada que viu o trabalho dele e pensou “ah, assim é fácil!” e começa – ele e centenas, milhares de outros – a repetir exatamente o que foi feito há décadas atrás, sem trazer nada de si para o trabalho. É banal, e para banalidade temos a Veja. Mais nauseante que isso só as figuras que mostram um texto maior que o tamanho do próprio trabalho.
Ah, mas é arte. Então tá então.
* Já tentou conversar com alguém sobre um exposição que você foi ou sobre um livro que você leu? Você fica com pecha de intelectual metido a rico e arrogante, mesmo sendo isso para você algo tão normal quanto ver televisão ou ler um jornal. Aliás, nunca entendi essa revolta já que as exposições são de graça e os livros devem custar tanto quanto um CD da banda emo do momento.