O jovem Cthulhu! Recém chegado na vizinhança, o pequeno senhor do mal tenta se adaptar à nova escola mas é rejeitado por seus coleguinhas, que não entendem sua aparência. Entristecido, Cthulu arranja uns parceiros por intimidação e sacrifica seus detratores na hora do lanche ao som de gangsta rap.
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Desenhos, II
Afinal, qual era a segunda palavra?
Referência.
Um estalo enorme aconteceu, mas isso foi devido a um mau jeito no braço. Enquanto tentava ignorar a dor, percebi como o poder de copiar ajudaria a criar um personagem: pegue as partes que precisa e as contextualize dentro de suas intenções. “Como assim, Bial?”, você pergunta. Explico. Você precisa de um personagem com mãos na cabeça em meia luz mas não sabe como fica as sombras. Arranje uma câmera e um abajur e tire uma foto de você mesmo na posição. Pronto, basta copiar a foto e seus detalhes. Quer mudar as roupas? Abra uma revista de moda e copie sobre seu personagem os modelos que gostar. Quer criar um monstro? Imagine o conceito, pegue fotos de animais que têm o que você quer e combine os elementos em sua criatura exclusiva. Um peixe transparente pode surgir a partir de uma foto de água viva e outra de um baiacu.
Olhar. Construir. Copiar.
Quem diria? Usar referências resolve boa parte dos problemas de criação pois você não precisa adivinhar como uma sombra, por exemplo, funciona. É só montar e copiar. Somada à capacidade de criar associações entre objetos (que comento em outra oportunidade), a técnica permite criação de realidades antes inimagináveis e, paradoxalmente, verossímeis. Quem trabalha com desenho também já conhece esse método de longa data, mas, para este que vos escreve, nem passava pela cabeça antes de levar o tracejado um pouco mais a sério. Treinar ajudou muito, mas foram apenas essas duas palavrinhas em mente, esboço e referência, que realmente mostraram como extravasar as idéias. Fico feliz com o resultado apesar de estar longe do nível desejado, e vejo que agora é tudo questão de tempo investido em treino e muito estudo. Afinal, ainda estou com a sensação de que nem arranhei a superfície do assunto.
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Desenhos, I
Há tempos, quando aprendia a desenhar, quebrava a cabeça sobre como diabos fazer isso. Afinal, não conseguia fazer um traço digno de nota. Eu adorava desenhos. Sempre quis aprender a fazê-los. Lembro que ficava fascinado, quando criança, ao ver aquelas ilustrações. Não entendia como o artista conseguia fazer aquela combinação de cores, aquelas sombras, aqueles detalhes. Principalmente, achava incrível como eles acertavam a proporção. Acreditava que um desenho ou uma pintura eram feitos como se escreve: começando no canto superior esquerdo e desenhando/pintando até o fim da página. Mas claro, também acreditava em esquemas de pirâmide e que Rubinho seria campeão.
A técnica imaginada foi minha primeira tentativa de reproduzir o que via, e logo percebi os problemas. Desenhar desse modo era lento. Dolorosamente lento. Algo em torno de duas semanas para acabar um desenho que no final ficava horroroso, tudo por conta da proporção que ficou completamente errada graças a um tracinho mais curto lá no início do trabalho. Quebrei a cabeça por muito tempo. Por um segundo cheguei a acreditar que desenhistas devia ser mesmo gênios, que “tinham o dom”, e que me “faltava talento”. Mas, teimoso, resolvi procurar um jeito de contornar minha falta de habilidade. Até que descobri do que os sonh… er… as ilustrações são feitas.
Esboço.
Essa palavrinha simples e tão óbvia para os desenhistas e pintores explodiu minha mente na época. Em vez de fazer logo de cara o produto final, começa-se com um desenho rápido, simples e nada detalhado. Assim você se preocupa primeiro em acertar a proporção e posicionar direito o desenho. O resto vem depois. Claro! Foi maravilhado que vi como um esboço libera a mente de detalhes como cores, sombras e outros detalhes e ajuda a concentrar no que realmente importa nos estágios iniciais. Mais, essa palavra abriu a mente para uma atitude completamente diferente ao desenhar: seguir etapas. O desenho deixou de ser uma “escrita” para se tornar uma construção. Primeiro o esqueleto, depois a cobertura e os detalhes. O desenho exigia paciência e tempo para a construção, mas normalmente acabava em um dia e com resultados muito mais compensadores. Com a idéia da construção na mão continuei o estudo atrás de novos conceitos. Espaço negativo. Visão bidimensional. Pontos de fuga. Traço valorizado. Tudo ajudava a refinar o traço e melhorar a fidelidade do desenho, a despeito de algumas “liberdades poéticas” tomadas. Mas havia um problema. Era bom em reproduzir retratos. Copiar fotos. Desenhar sapatos. Mas não conseguia criar nada. Um robozinho. Uma criatura inexistente. Uma pose diferente. Parecia impossível fazer as visões mentais aparecerem no papel de modo convincente. Injuriado, passei a conversar com pessoas, visitar fóruns, devorar livros. Nada ajudava, nada funcionava. Até que um dia esbarrei com uma imagem na internet. Foi quando encontrei a segunda palavra.
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Dia de artista
É horrível quando isso acontece. Você está na rua, no banheiro ou no carro e de repente tem uma epifania. Um momento onde as idéias que você ruminava se conectam e tudo passa a fazer sentido. O resultado seria um belo texto para a posteridade, onde suas conclusões geniais poderiam ser divulgadas e discutidas. E você se prepara para fazer conexões impensáveis do renascimento com a teoria da relatividade e a crise do pós-moderno, e pensa porque aquele copo está ali se eu tinha acabado de deixar ele na pia? Ah, é porque tinha tomado suco, que manchou o rascunho… mas criou uma textura interessante. Cadê a gueixa que eu comecei a desenhar? Aqui, essa cor combina bem com o que eu quero fazer no vestido. Xi, acabou a tinta. Vou sair para comprar assim que acabar de ver esse e-mail. Ah, Homem de Ferro estreou hoje!
(corre para o cinema)
Cara, o Robert Downey Jr. é o Tony Stark mesmo. Hum… estou com a sensação de ter esquecido alguma coisa.
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E se…
…Oiticica estivesse no Project Runway? Imagine ele trabalhando no ateliê com os outros estilistas quando o Tim chegasse, desgostoso com o que tinha visto.
– E você, Hélio? O quê é isso?
– Esse é o parangolé. Já está finalizado.
– Hum, não estou certo…
– Parece estranho agora, mas espere só a modelo vestir.
Tim solta um suspiro e fala “Ok, make it work”. Depois do desfile os jurados horrorizados começam as perguntas:
– Hélio, o que foi isso?
– Isso foi a desmaterialização tátil viva pela participação do espectador, Heidi.
– Hã?
– É uma anti-arte que quer criar uma nova condição experimental onde o artista, no caso eu, toma o papel do educador.
– Mas o desafio foi criar um vestido de noite com materiais recicláveis.
– Noite ou dia, não há diferença. O importante do conceito foi fazer uma remissão às favelas cariocas demonstrando as complexas texturas do duelo de classes, expondo minha sensibilidade política às custas do atrativo estético.
– Oh… kay.
E Oiticica seria desclassificado naquele primeiro programa, contrariado.
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Take wrong turns. Talk to strangers. Open unmarked doors. And if you see a group of people in a field, go find out what they’re doing. Do things without always knowing how they’ll turn out. (…) You’re curious and smart and bored, and all you see is the choice between working hard and slacking off. There are so many adventures that you miss because you’re waiting to think of a plan. To find them, look for tiny interesting choices. And remember that you are always making up the future as you go.