Há tempos, quando aprendia a desenhar, quebrava a cabeça sobre como diabos fazer isso. Afinal, não conseguia fazer um traço digno de nota. Eu adorava desenhos. Sempre quis aprender a fazê-los. Lembro que ficava fascinado, quando criança, ao ver aquelas ilustrações. Não entendia como o artista conseguia fazer aquela combinação de cores, aquelas sombras, aqueles detalhes. Principalmente, achava incrível como eles acertavam a proporção. Acreditava que um desenho ou uma pintura eram feitos como se escreve: começando no canto superior esquerdo e desenhando/pintando até o fim da página. Mas claro, também acreditava em esquemas de pirâmide e que Rubinho seria campeão.
A técnica imaginada foi minha primeira tentativa de reproduzir o que via, e logo percebi os problemas. Desenhar desse modo era lento. Dolorosamente lento. Algo em torno de duas semanas para acabar um desenho que no final ficava horroroso, tudo por conta da proporção que ficou completamente errada graças a um tracinho mais curto lá no início do trabalho. Quebrei a cabeça por muito tempo. Por um segundo cheguei a acreditar que desenhistas devia ser mesmo gênios, que “tinham o dom”, e que me “faltava talento”. Mas, teimoso, resolvi procurar um jeito de contornar minha falta de habilidade. Até que descobri do que os sonh… er… as ilustrações são feitas.
Esboço.
Essa palavrinha simples e tão óbvia para os desenhistas e pintores explodiu minha mente na época. Em vez de fazer logo de cara o produto final, começa-se com um desenho rápido, simples e nada detalhado. Assim você se preocupa primeiro em acertar a proporção e posicionar direito o desenho. O resto vem depois. Claro! Foi maravilhado que vi como um esboço libera a mente de detalhes como cores, sombras e outros detalhes e ajuda a concentrar no que realmente importa nos estágios iniciais. Mais, essa palavra abriu a mente para uma atitude completamente diferente ao desenhar: seguir etapas. O desenho deixou de ser uma “escrita” para se tornar uma construção. Primeiro o esqueleto, depois a cobertura e os detalhes. O desenho exigia paciência e tempo para a construção, mas normalmente acabava em um dia e com resultados muito mais compensadores. Com a idéia da construção na mão continuei o estudo atrás de novos conceitos. Espaço negativo. Visão bidimensional. Pontos de fuga. Traço valorizado. Tudo ajudava a refinar o traço e melhorar a fidelidade do desenho, a despeito de algumas “liberdades poéticas” tomadas. Mas havia um problema. Era bom em reproduzir retratos. Copiar fotos. Desenhar sapatos. Mas não conseguia criar nada. Um robozinho. Uma criatura inexistente. Uma pose diferente. Parecia impossível fazer as visões mentais aparecerem no papel de modo convincente. Injuriado, passei a conversar com pessoas, visitar fóruns, devorar livros. Nada ajudava, nada funcionava. Até que um dia esbarrei com uma imagem na internet. Foi quando encontrei a segunda palavra.