Peguei esse livro para ler com o objetivo de entender matemática, e terminei a leitura sentindo que fracassei miseravelmente nisso. Mas ouso dizer que não foi por minha culpa.
Escrito por David Bessis, Mathematica é tão arrastado de ler quanto os livros de matemática cheios de fórmula que o próprio autor critica. A proposta da obra era desmistificar o ensino da matemática explicando como entender intuitivamente os conceitos por trás das equações e nomenclaturas, criando analogias e comparações ao longo do caminho. Em alguns momentos o autor traz pontos interessantes, como a parte que ele descreve e atualiza os “sistemas de cognição”, apresentando a intuição, a razão e a “meditação”, e como interagir com esses sistemas para construir uma compreensão dos objetos matemáticos. E em certos pontos o autor até traz alguns exercícios e atitudes que são realmente práticas, apresentando ferramentas úteis no estudo de disciplinas em geral.
O problema é que os conhecimentos práticos estão perdidos no meio de páginas e mais páginas de biografias de matemáticos e dele mesmo, além de muitas divagações e repetições constantes. O livro é quase uma autobiografia, mais do que propor uma abordagem nova sobre o estudo da matemática. São vinte capítulos e mal consegui condensar informação prática para fechar um, foi como procurar a proverbial agulha no palheiro.
Enfim, Mathematica é interessante como um ponto de discussão filosófica sobre a matemática, e até como ferramenta de reflexão sobre o ato de estudar em si. Mas achei fraco no que realmente me interessava, que é o de trazer ferramentas para exercitar a abstração e compreensão da matemática. Vale uma leitura descompromissada, se tiver paciência.
Ou: como parei de me preocupar e decidi rodar 2000 km em uma Cafe Racer
Resolvi descer para a Serra do Rastro da Serpente em São Paulo e falhei miseravelmente. Nunca tinha feito uma viagem longa com a Elsa e resolvi tentar logo de cara uma de 3 mil km, talvez 4 se eu animasse em continuar. Chegando em Ribeirão Preto eu pedi as contas, botei o rabo entre as pernas e voltei devagarinho, pensando como era possível sentir tanta dor em todo o corpo e continuar rodando. Esses são os pontos que aprendi pelo caminho.
A Elsa, minha Cafe Racer (uma Continental GT 650) estacionada num posto de atendimento de uma BR
• Existe um motivo para uma Cafe Racer se chamar “Cafe Racer” e não “World Tourer”;
• Aquilo ali que ela tem não é um banco, é uma tábua;
• Invejei os tiozões que viajavam nas motos custom da vida;
• Menosprezei os mesmos tiozões que diziam como era sofrido rodar muitos quilômetros de moto e como eles eram guerreiros por fazer isso. Meu filho, tu tá num sofá de duas rodas. Sobe aqui numa racer pra ver o que é bom pra tosse.
• Gastei mais ou menos 7 litros a cada 160 quilômetros, o que me dava aproximadamente 22km/L de consumo;
• Com um tanque de 12 litros eu poderia teoricamente rodar 260 quilômetros antes dela parar, mas a cada 140 quilometros rodados eu já ficava ansioso atrás de um posto de gasolina;
• Moto refrigerada a ar ESQUENTA, principalmente se você se mantiver acima de 110 km/h;
• Falando de calor, meu celular foi meu GPS e ele cozinhou o caminho todo no suporte. Acho que a bateria dele nunca mais vai ser a mesma;
• Câmera no capacete, não use. O peso com o tempo cansa o pescoço e o vento joga a cabeça pro lado, ela cria muita resistência aerodinâmica. E além disso a bateria acaba rápido. Prenda na moto e ligue numa tomada USB;
• Aliás, não instalei tomada USB. Mantive o celular vivo com uma bateria de 20000mAh, durou as 10 horas e ainda saiu com carga;
• A BR-050 é a rodovia mais tranquila que já peguei, toda duplicada e em condições ok;
• A Anhanguera é a pista mais CHATA que já rodei, um retão infinito sem paisagem;
Essa deve ser a tal da Infinita Highway
• Os pedágios são um atraso de vida, muitos aceitam cartão mas uma boa parte só pagando em dinheiro. DINHEIRO. Feito um selvagem. Em pleno ano de 2024. E nem adianta tag, moto não pode usar – elas são ilegais em pedágios e os leitores não reconhecem.
• Muito caminhões pelo caminho, mas como a BR-050 é duplicada eles não foram problema;
• Odeio passar por Valparaíso e por Luziânia com todas as minhas forças, os motoristas dali são suicidas. Aumentei o tempo de viagem em 1 hora indo pela GO-436, mesmo estando estrupiado, para não passar por aquele inferno;
• Aliás, esse trecho da GO e o início da BR-050 foram os mais divertidos da estrada;
• Leve um borrifador com água e uma flanela para limpar as toneladas de insetos que vão se espatifar na viseira e na jaqueta;
Viseira limpa depois de muito esfregar, mas ainda com sinais do massacre no resto do capacete e jaqueta
• Parei em praticamente todos os pontos de apoio das BRs para me esticar e beber água, isso deve ter aumentado o tempo de viagem em pelo menos uma hora;
•Gastei 10 horas para ir até Ribeirão e 10 para voltar de lá. Foram 20 horas pendurado em cima de uma Cafe Racer;
• Meus braços ficaram dormentes durante o caminho;
• Minhas pernas ficaram dormentes durante o caminho;
• Fiquei com dores nas articulações e nas costas por três dias;
• Fiquei me perguntando no caminho por que diabos resolvi fazer isso;
Agora sou um Adobe Certified Professional in Graphic Design & Illustration Using Adobe Illustrator segundo a Adobe. Aparentemente isso quer dizer que eu sei usar esse trem aí.
Aí você vai no MASP para ver a exposição do Gauguin, mas antes decide passar no acervo para ver o que tem… E dá de cara com o livro de história da arte inteiro pendurado.