Theo Jansen, um alemão que faz criaturas movidas a vento com tubos e garrafas de plástico. A visão deles em uma praia deve ser umas das melhores experiências da vida, são impressionantes. O site do artista está aqui, e neste link há um vídeo para sua apresentação na conferência TED. No YouTube há uma série de vídeos com as criaturas em funcionamento.
Já Reuben Margolin é um norte-americano fascinado por ondas. Suas esculturas usam madeira, metal e outros materiais para recriar movimentos da natureza em trabalhos muitos delicados. Seu site está aqui, e no BoingBoing há um vídeo com suas obras.
Dave McKean disse uma vez que não há sentido em fazer com que um material seja o que ele não é; que se o interesse é por um realismo preciso, como pintar um tecido, que se use uma fotografia do tecido então em vez de tentar reproduzir a textura com tinta.
“Ah, tá bom. Quem diz isso é porque não sabe pintar”, e enfio o pincel no nariz do fulano que fez o favor de babar no meu braço. Pode até ser, afinal existem tantas técnicas e ferramentas diferentes ao alcance da mão que tornam a criação mais fácil, ao alcance de qualquer um. É ruim? Depende. Pode ser quando algumas pessoas começam a se chamar webdesigners por saberem usar o FrontPage da Microsoft, mas mesmo assim apenas se forem sem noção. E… o que mesmo? Ah, e alguém não sabe ou não quer desenhar? Por que não se expressar por colagens? Ou por fotomontagens? Alison Jackson é uma dessas artistas que souberam brincar com isso, sacudindo um pouco essa cultura das celebridades. Veja essa apresentação no TED, uma conferência sobre Tecnologia, Entretenimento e Design, para conhecer um pouco desse trabalho.
Falo isso porque já estudei desenho acadêmico e técnico e achava tudo muito chato. Sério, para quê desenhar um retrato hiperealista se uma fotografia resolve? Já desenhei sapatos realistas e narizes sombreados e bocas carnudas e olhos brilhantes e rostos completos com tudo isso e minha reação sempre foi “meh”. Digo, faz bem pro ego mas e daí? O desenho era bonito, realista, identificável, mas e daí? Parecia faltar algo mais. Alma, presença, expressão, não sei. Só sei que via um trabalho burocrático, no sentido de sentar e seguir à risca a cartilha técnica. Pode ser bom como aprendizado, mas viver disso? Obrigado, mas não obrigado.
Scott McCloud escreveu em seu Desvendando os Quadrinhos que nesse meio um maior realismo torna a imagem mais impessoal e objetificada, menos reconhecível por alguém, enquanto uma imagem mais icônica, simplificada, torna fácil a identificação do leitor com o personagem. Talvez seja isso, não dá para se reconhecer em uma perna de mesa (acho). Mas deve ter mais aí. Acredito que o artista precisa aparecer de algum modo em sua obra, transmitir sua visão pervertida e distorcida e colorida e esquizofrênica e meu-deus-que-viajem-isso-que-pensei-mas-ficou-legal da realidade para trazer algo que tire do dia a dia a pessoa que vê a imagem, levando-a na imaginação para um lugar ou uma sensação ou uma experiência um pouco mais legal. Afinal, para ver banalidade é só olhar para a rua e as ilustrações vetoriais de propaganda.
Então abandonei esse estudo. Saí do realismo para o abstracionismo, enchendo bordas e mais bordas de caderno com padrões e geometrizações de rostos durante as aulas mais chatas do curso de biologia. Conheci o Paint Shop Pro da JASC bem antes do meu primeiro Mac, e nele aprendi muito do que sei hoje. O Photoshop veio anos depois, seguido pelo Affinity Designer. Porém, mesmo com todo esse conhecimento e esse desprendimento, ficava aquele ranço de “não ser um artista de verdade” por não desenhar mais uma mão com todas as sombras e detalhes. Até um dia ver um quadro de Mondrian e dizer em voz alta, para surpresa de todos ao meu redor:
Um estalo enorme aconteceu, mas isso foi devido a um mau jeito no braço. Enquanto tentava ignorar a dor, percebi como o poder de copiar ajudaria a criar um personagem: pegue as partes que precisa e as contextualize dentro de suas intenções. “Como assim, Bial?”, você pergunta. Explico. Você precisa de um personagem com mãos na cabeça em meia luz mas não sabe como fica as sombras. Arranje uma câmera e um abajur e tire uma foto de você mesmo na posição. Pronto, basta copiar a foto e seus detalhes. Quer mudar as roupas? Abra uma revista de moda e copie sobre seu personagem os modelos que gostar. Quer criar um monstro? Imagine o conceito, pegue fotos de animais que têm o que você quer e combine os elementos em sua criatura exclusiva. Um peixe transparente pode surgir a partir de uma foto de água viva e outra de um baiacu.
Olhar. Construir. Copiar.
Quem diria? Usar referências resolve boa parte dos problemas de criação pois você não precisa adivinhar como uma sombra, por exemplo, funciona. É só montar e copiar. Somada à capacidade de criar associações entre objetos (que comento em outra oportunidade), a técnica permite criação de realidades antes inimagináveis e, paradoxalmente, verossímeis. Quem trabalha com desenho também já conhece esse método de longa data, mas, para este que vos escreve, nem passava pela cabeça antes de levar o tracejado um pouco mais a sério. Treinar ajudou muito, mas foram apenas essas duas palavrinhas em mente, esboço e referência, que realmente mostraram como extravasar as idéias. Fico feliz com o resultado apesar de estar longe do nível desejado, e vejo que agora é tudo questão de tempo investido em treino e muito estudo. Afinal, ainda estou com a sensação de que nem arranhei a superfície do assunto.