Arte é um koan. É um entendimento para além das palavras, uma sensação impossível de ser descrita e experimentada por outro modo que não seja você em frente a uma obra de arte. Fotografias e reproduções dão uma uma leve idéia do que a obra é, e alguns artistas espetaculares conseguem manter parte dessa força mesmo nesse meio. Porém, estar ali, diante de, digamos, um quadro de três metros de altura presente em toda sua grandiosidade, é algo que faz você surtar.
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O que é arte, II
Arte é fenômeno, não coisa. É o momento onde um artefato produzido por um ser humano com a intenção de afetar o espectador causa nele alguma uma alteração. É mais profundo do que olhar para uma pintura e dizer “que legal” ou “que feio”. É uma mudança de percepção qualquer.
Assim, arte não “existe”, mas “acontece”. Se você olha uma escultura, por exemplo, e aquilo te toca de algum modo ou muda seu modo de pensar, “aconteceu arte”. Se não, é apenas uma escultura, não um objeto de arte. Corolário: O que é arte para uma pessoa pode não ser para outra.
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Sobre a inerente superioridade das artes visuais
Tenho certeza que vários já pensaram nisso, e não tenho medo de apontar a pintura, a escultura e o desenho como formas superiores e mais humanas de arte, pelo simples fato de todas respeitarem a individualidade do espectador. Você vê quando quer, e basta um virar de rosto para apagar a visão daquela pintura brega de um cavalo no pasto.
Já a música não respeita barreiras: ela destroça pessoas com a mesma facilidade que as empolga. Não adianta, aquele axé vai encontrar um caminho da caixa de som ao seu ouvido atravessando o ar, dois andares, as janelas, a parede, a porta, o travesseiro e o tampão de borracha que você tenta desesperadamente interpor na busca do silêncio.
Do mesmo modo o cinema, a televisão e a videoarte. Por precisarem do som para funcionar (nem tanto para a videoarte) ficam tão más quanto a música, e muito mais cruéis nas mãos de pessoas (e uso essa palavra com certa liberdade poética) que precisam mostrar o novo suporte do meio: um Home Theater/Microsystem da Aiwa/Pioneer/CCE/Sharp com 300 GigaWatts de potência. Essas criaturas pegaram a idéia do “se não sabe fazer bem, faça grande” e deram um novo sentido a ela.
A superioridade social da pintura é óbvia. Muitos já gritaram “Abaixo o som aí, ô”. Ninguém jamais disse “larga esse pincel aí, ô, tenho que trabalhar amanhã”. Imagine pessoas se contorcendo na cama porque o vizinho aplicou pela terceira vez o filtro Clouds do Photoshop. Pessoas na biblioteca irritadas porque a atendente acabou de comprar uma tela abstrata vendida no shopping por cem reais e deixou ela no carro. Olhos de visitas sangrando porque elas entraram na sala e viram aquele poster do Salvador Dali sobre o sofá. Não acontece, não acontece.
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Desenhos, III
Dave McKean disse uma vez que não há sentido em fazer com que um material seja o que ele não é; que se o interesse é por um realismo preciso, como pintar um tecido, que se use uma fotografia do tecido então em vez de tentar reproduzir a textura com tinta.
“Ah, tá bom. Quem diz isso é porque não sabe pintar”, e enfio o pincel no nariz do fulano que fez o favor de babar no meu braço. Pode até ser, afinal existem tantas técnicas e ferramentas diferentes ao alcance da mão que tornam a criação mais fácil, ao alcance de qualquer um. É ruim? Depende. Pode ser quando algumas pessoas começam a se chamar webdesigners por saberem usar o FrontPage da Microsoft, mas mesmo assim apenas se forem sem noção. E… o que mesmo? Ah, e alguém não sabe ou não quer desenhar? Por que não se expressar por colagens? Ou por fotomontagens? Alison Jackson é uma dessas artistas que souberam brincar com isso, sacudindo um pouco essa cultura das celebridades. Veja essa apresentação no TED, uma conferência sobre Tecnologia, Entretenimento e Design, para conhecer um pouco desse trabalho.
Falo isso porque já estudei desenho acadêmico e técnico e achava tudo muito chato. Sério, para quê desenhar um retrato hiperealista se uma fotografia resolve? Já desenhei sapatos realistas e narizes sombreados e bocas carnudas e olhos brilhantes e rostos completos com tudo isso e minha reação sempre foi “meh”. Digo, faz bem pro ego mas e daí? O desenho era bonito, realista, identificável, mas e daí? Parecia faltar algo mais. Alma, presença, expressão, não sei. Só sei que via um trabalho burocrático, no sentido de sentar e seguir à risca a cartilha técnica. Pode ser bom como aprendizado, mas viver disso? Obrigado, mas não obrigado.
Scott McCloud escreveu em seu Desvendando os Quadrinhos que nesse meio um maior realismo torna a imagem mais impessoal e objetificada, menos reconhecível por alguém, enquanto uma imagem mais icônica, simplificada, torna fácil a identificação do leitor com o personagem. Talvez seja isso, não dá para se reconhecer em uma perna de mesa (acho). Mas deve ter mais aí. Acredito que o artista precisa aparecer de algum modo em sua obra, transmitir sua visão pervertida e distorcida e colorida e esquizofrênica e meu-deus-que-viajem-isso-que-pensei-mas-ficou-legal da realidade para trazer algo que tire do dia a dia a pessoa que vê a imagem, levando-a na imaginação para um lugar ou uma sensação ou uma experiência um pouco mais legal. Afinal, para ver banalidade é só olhar para a rua e as ilustrações vetoriais de propaganda.
Então abandonei esse estudo. Saí do realismo para o abstracionismo, enchendo bordas e mais bordas de caderno com padrões e geometrizações de rostos durante as aulas mais chatas do curso de biologia. Conheci o Paint Shop Pro da JASC bem antes do meu primeiro Mac, e nele aprendi muito do que sei hoje. O Photoshop veio anos depois, seguido pelo Affinity Designer. Porém, mesmo com todo esse conhecimento e esse desprendimento, ficava aquele ranço de “não ser um artista de verdade” por não desenhar mais uma mão com todas as sombras e detalhes. Até um dia ver um quadro de Mondrian e dizer em voz alta, para surpresa de todos ao meu redor:
-Também não apela, né?
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Large Hadron Collider, explicado
O LHC foi ligado em algum dia de agosto desse ano, e hoje começaram a circular os feixes pelo anel principal. As partículas devem ficar acelerando ali até meados de outubro, quando atingirão 99% da velocidade da luz, e serão colocados em rota de colisão dia 21 daquele mês. O que vai acontecer depois? É isso que todos querem saber.
Enquanto o fim do mundo não chega, o PHD Comics começou uma ótima série sobre a visita do autor ao acelerador de partículas que explica bem o que é tudo isso e o que os cientistas esperam.
EDIT: Vazou hélio do sistema de refrigeração e precisaram desligar o LHC. Até março ou abril de 2009. Isso sim é anti-climax.
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Idéias rejeitadas para séries de televisão
O jovem Cthulhu! Recém chegado na vizinhança, o pequeno senhor do mal tenta se adaptar à nova escola mas é rejeitado por seus coleguinhas, que não entendem sua aparência. Entristecido, Cthulu arranja uns parceiros por intimidação e sacrifica seus detratores na hora do lanche ao som de gangsta rap.