Volta e meia eu ouvia dois colegas de trabalho conversando em inglês. Estranhamente sentia uma vontade absurda de levantar com o dedo indicador em riste, um livro seguro pela outra mão próximo ao peito, e gritar “The BOOK is on the table! THE TABLE!”. Isso com uma entonação grave e dramática na voz, como quem profere palavras de grande sabedoria.
Categoria: vida, universo e tudo mais
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O reconhecimento do âmago no Umano H-inumano
Já teve paciência para ler um texto de exposição? Eu já. Por várias vezes me perguntei se aquele texto era mesmo daquela exposição. Já entrei na galeria todo animado atrás da coleção onde eu devia experenciar (sic) um retorno ao primitivismo humano, ao âmago do meu ser conflitando com minha infância, mas só vi umas latas de tinta riscadas por pregos, uns pedaços de madeira sujos de guache e uns soldadinhos de plástico colados no chão. Já pensei em abrir processo por propaganda enganosa mas só de pensar em ter que ouvir mais retórica do sujeito de boina e cavanhaque tive calafrios. Achei melhor fazer uma retirada honrosa e guardar o folder na lixeira.
Repare como a qualidade do texto acaba sendo inversamente proporcional à qualidade da obra. Ou nem isso: a exposição pode até ser boa mas o texto promete tanto uma reação pluri-extática transcedental que fico decepcionado por sair da galeria sem meus orgasmos.
O mesmo para justificativas de designers ao apresentarem suas novas marcas. Aqui o desenho remete aos valores fundamentais da empresa como seriedade e solidez, e passa um sentimento de alegria e receptividade tântrica exponencial a cada olhada. E ao olhar para o papel tudo que você consegue ver são dois traços azuis e uma curva suspeitamente parecida com a marca da Nike.
Há alguma vergonha em admitir que a arte – e porque não o design – se dá às vezes por felicidade do acaso? Por um conhecimento acumulado por anos que simplesmente saiu na forma de uma obra de arte ou de uma marca interessante, e que você não tem a menor idéia de como isso foi feito mas apenas sabe que funciona? Parece que sim, porque as explicações são não apenas mais presentes e mais constantes, mas mais bizarras e esotéricas. Não basta ser bom, tem que parecer bom, como se cada linha fosse cuidadosamente pensada, cada rabisco estafantemente redesenhado, tudo para defender o valor do trabalho daquela famigerada frase que diz “ah, até eu faço”, mostrando as teorias de Arnheim/Balzac/Rubinho Barrichello para justificar o vidro de talco de dois metros de altura feito com celofane.
Mas dada a qualidade (leia picaretagem) de uma leva enorme de artistas e designers, a quem vamos culpar?
tags: arte
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Tédio
Não precisa recarregar a página, a imagem está aí. Aí em cima. Logo acima dessa linha. Viu agora? Esse espaço em branco*. É uma pintura de Cy Twombly. Sacou a profundidade? O conceito?
Nem eu. E nem quero. A verdade é que hoje é legalzinho falar água para tudo, principalmente em arte. Meia dúzia de frases quase coerentes servem para explicar e validar qualquer coisa.
– Prove!
Tudo bem. Então, a pintura acima é niilista: busca o aniquilamento da condição humana pela recusa em ater-se à representação de sua figura, relevando apenas o ser. É uma citação direta a 4’33” de John Cage em sua tensão pós-apocalíptica surgida depois da explosão da primeira bomba atômica.
– Uau!
Obrigado, obrigado. Não é difícil, só requer que você pare de dançar pagode e vá ler um pouco. E nem é preciso entender o que lê, apenas saber pegar umas palavras e enumerar. Tenho certeza de que uma geração inteira de críticos e curadores foi feita em cima disso, essas bestas.
Pensando bem há um conceito sim, talvez a base de quase toda a arte moderna: o tédio, que se manifesta infinitamente nesses trabalhos. O artista conceitual deve ser uma pessoa profundamente entediada que se resignou a isso.
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Arthur Danto disse que chegamos ao fim da história da arte. Na verdade, o que ele quis dizer é que não existem mais movimentos, ou “ismos”, como existia antigamente: impressionismo, cubismo, fauvismo e por aí vai. Eu faço uma vênia e discordo respeitosamente. Vivemos um ismo, sim, que começou logo após a Pop Art. Chamo carinhosamente de Vulgarismo ou Banalismo, e é essencialmente um Dadaísmo apático e entediado que pega tampinhas de garrafa e as cola na parede da galeria.
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E por quê precisamos de texto afinal? A boa arte devia ser mais uma apreciação do que criada apenas para sustentar um discurso. Aliás, se sua obra precisa de um discurso para ser vista você já fracassou. Pegue seu quadro e use-o para assustar criancinhas no halloween.
– Eu sou a inconsciência coletiva da luta de classes! Waaaaaaaah!
– Manhêêêêêêêêêêê! Faz ele parar!
– Calma filho, é só um artista plástico.
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Como assim, que sou eu para falar desse jeito? Sou rei de Nihitélia, nascido no Renascimento e criado à base de Toddynho. Kneel before Zod!
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Para finalizar, um pouco de coisas que não são tediosas:
Ray Caesar
Mel Kadel
Leonardo
Burnout Paradise Remastered* Tá, a imagem na verdade é só um JPG em branco. Clique aqui para ver o quadro na galeria.
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A Continental GT 650 da Royal Enfield é uma custom que faz curva
Para explicar melhor: sabe aquelas Harleys 883 que algumas oficinas pegam para customizar e transformar em cafe racers? Estou falando dessa moto aqui:
Que depois de muitas semanas ou até meses de trabalho em alterações e adaptações fazem ela virar isso aqui:
Pois é. A Continental GT 650 é como se fizessem isso, mas de fábrica:
A GT aí da foto sai da concessionária por pouco mais de 27 mil zero km, menos se mudar a cor e tirar os acessórios. Comparado com o preço só da Iron, que vai pra mais de 40 mil pelada, a moto da Royal sai bem mais em conta para quem curte o visual cafe racer. Olha que maravilha, você pode ter o mesmo desconforto causado pelas vibrações do motor, e sofrer com a falta de potência, por menos da metade do preço!
Yep, você leu certo. Uma coisa que a GT não tem é potência, mesmo sendo uma 650. Aliás, quando falo que ela é uma custom que faz curva, é porque ela é isso mesmo. O motor me lembra demais o da Dragstar 650 que eu tive: bom torque em baixas rotações, e nenhuma final – ela pega no máximo 160 km/h em terreno plano. Aliás, ela roda bem melhor em baixas rotações, ficando entre 2 e 3 mil, e batendo nas 3 mil RPM já a 80 km/h na sexta marcha.
Tem também duas outras coisas que fazem dela muito parecida com minha antiga custom. A primeira é o fato do motor ser refrigerado a ar e óleo. Ou seja, ela esquenta, e o bafo vem sempre que você para em algum sinal, acompanhado daquele leve perfume de óleo de motor.
A segunda são as vibrações. Não chega a ser tão ruim quanto uma Harley, mas existem, e depois de meia hora as mão começam a ficar dormentes. Uma forma que encontrei de amenizar o problema foi colocar aquela fita de guidão de bicicleta nas manoplas. O visual ficou legal, e ela absorve uma boa parte da tremedeira. Mesmo assim, para passeios mais longos vale parar a cada 30 ou 40 minutos para esticar o corpo e fazer o sangue circular de novo nos dedos.
Então… É uma moto ruim considerando tudo? Nope. Não mesmo, se você entender o que ela é e o que ela não é. Ela não é uma moto esportiva, não foi feita para grandes velocidades nem para competir com as naked quatro cilindros das famílias japonesas (Honda/Suzuki/Kawasaki/Yamaha). Também não tem grandes avanços tecnológicos como controle de tração ou modos de pilotagem.
Mas o que ela é, ela é muito bem. Ela é uma moto custom (ou cruiser como chamam lá fora), mas uma moto custom prática. O entre-eixos curto e os pedais elevados dão uma agilidade que as Harleys da vida não tem. A segurança que ela passa ao entrar numa curva é muito boa, e a suspensão passa por cima de buracos como se não houvesse nada ali. Já o motor, apesar de fraco se comparado com as naked japonesas, bebe pouco e faz entre 26 a 30 km/L. Em tempos de gasolina a 6 reais o litro, como não amar isso?
E caramba, olha pra ela:
Além de ser ótima de pilotar ela é linda. É o tipo de moto que agrada na reta, agrada nas curvas, e quando você desce dela ainda precisa dar uma olhada pra trás e curtir o visual. Vocês podem até gostar de moto parecida com jet ski, mas eu sou um véio paia que gosta de moto com cara de moto, e nisso a GT ganha de todas as outras.
Agora dá licença que o céu tá limpo aqui na Asa Sul e eu preciso ir no fim do Lago Norte comprar pão.